segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

FUTEBOL DE VETERANOS À QUINTA FEIRA

Como refere José Jorge Letria no prefácio de «Adágio, Romanza e Grave», Américo Brás Carlos «ao contrário de outros poetas, tem uma vida que se estrutura e afirma fora da poesia».
Lendo os poemas deste belo livro «...percebe-se que foi a vida que, na sua interioridade emocional e confessional, levaram Américo Brás Carlos a tornar-se poeta...», continua o ilustre prefaciador.
E logo acrescenta: «Não estamos, porém em presença de um capricho poético passageiro e inconsequente» já que o Autor revela «uma voz própria, pessoal e intransmissível que se detecta em vários poema desta colectânea».
Um dos meus poemas favoritos deste livro é o poema «Futebol de veteranos à quinta feira», que aqui se reproduz.

Buscando contra o tempo o nosso graal
acreditamos, enganados por instantes
que as jogadas espectaculares, mirabolantes
e aquele golo putativamente genial
marcado entre roturas e distensões,
têm o mesmo brilho que tinham dantes
e fazem o delírio de milhões.

Fintando Cronos, obstinados, com peneiras,
anda por aqui um anúncio de eternidade.
Sexagenários jogam todas as quinta-feiras,
lutando com arreganho e com vaidade
contra as suas eternas companheiras:
- As mazelas da "puta da idade".

É tal a loucura com sentido,
a paixão à solta em desafogo!
Que se tudo fosse compreendido
e os termos também fossem certeiros.
os segundos que dura o jogo
chamar-se-iam primeiros.

- Até quinta companheiros!






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