sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

UMA FACA NOS DENTES

António José Forte é uma das mais belas, inquietantes e poderosas vozes da poesia portuguesa do século XX.
Diz Herberto Helder no prefácio do livro «Uma faca nos dentes»: «A voz de Forte não é plural, não é directa ou sinuosamente derivada, não é devedora. Como toda a poesia, verdadeira, possui apenas a sua tradição, no caso a tradição romântica no menos estrito e mais expansivo e qualificado registo, uma tradição próximo de nós esclarecida pelo surrealismo, imemorial, dinâmica, abrindo para trás e para diante, única maneira de entender-se uma tradição...».
Para além dos poemas de Forte, o livro está enriquecido com ilustrações e fotografias de Aldina, mulher do Poeta.
É também deste Autor o livro de poesia infantil «Uma rosa na tromba de um elefante», reeditado no final do ano passado e igualmente ilustrado por Aldina.

Aqui fica um excerto do poema «O poeta em Lisboa», que muito aprecio:

Quatro horas da tarde
O poeta sai de casa com uma aranha nos cabelos.
Tem febre. Arde.
E a falta de cigarros faz-lhe os olhos mais belos.

Segue por esta, por aquela rua
sem pressa de chegar seja onde for.
Pára. Continua.
E olha a multidão, suavemente, com horror.

Entra no café.
Abre um livro fantástico, impossível.
Mas não lê.
Trabalha - numa música secreta, inaudível.


.








Sem comentários:

Enviar um comentário